Mas o amor é, sobretudo, alegria e marotice! Venham daí ao século XVI espanhol!...
Que alegres são pró triste enamorado
as iras de sua dama com brandura!
Aquele: "Estais em vós? Mas que loucura!"
Aquele: "Deixai-vos disso, descarado!"
E o benzer-se: "Como haveis entrado?"
E o temer as más línguas com cordura,
o lânguido desmaio e a doçura
daquele: "Ai, que nos ouvem! Que é pecado!"
O falso defender-se, o malefício,
as lágrimas, o "Ai", o "Eu vos prometo!",
o "Creio me enganais como inimigo".
Aquele: "Onde estava eu? Tenho juízo?"
"Como vós me deixais! Guardai segredo".
Não há mal que tal bem traga consigo.
"Jardim de Vénus", manuscrito, Madrid, 1589
In: "Jardim de Poesias Eróticas do Siglo de Oro", Assírio & Alvim, trad. de José Bento, 1997.